Casal cria software barato para ajudar cegos a usar a web

12/11/2012 Destaques, Notícias 0
Fernando Botelho apresenta o software f123

Fernando Botelho apresenta o software f123

Com um pen drive, um deficiente visual consegue usar o computador e navegar pela internet. Tudo é feito por um software que lê o conteúdo disponível na tela do monitor. A invenção é do casal paranaense Fernando Botelho e Flávia de Paula, que lançou o produto – chamado de F123 (leia mais em f123.org) – há dois anos e se prepara para soltar uma atualização no mercado em setembro. “Acredito que há muito talento entre os cegos, o qual não é normalmente expressado, porque as pessoas não têm a tecnologia de que precisam”, afirmou Fernando.

O leitor de tela não é exatamente uma novidade no campo da computação. Existem protótipos desse tipo de programa desde o fim da década de 1980. O funcionamento é bem simples: o software apresenta uma voz sintetizada que lê os textos presentes em navegadores, sites e e-mails para o usuário – que utiliza apenas o teclado para indicar o que quer ler.

Esse tipo de programa está disponível no mercado por um preço alto, inacessível para maioria dos deficientes visuais. O projeto da empresa de Botelho – também batizada de F123 – é realizar o mesmo feito de Prometeu ao entregar fogo aos gregos e disponibilizar a tecnologia para todos.

Socializar

O primeiro passo foi baratear os custos. Segundo Flávia de Paula, “a solução tradicional custa 2.500 dólares, enquanto a nossa solução, que inclui tudo, custa 150 dólares”. Fernando Botelho afirma que não adiantava baratear o custo em 10%, 20% ou 50%, “tínhamos que reduzir em dez vezes”. Ele diz que o alto custo limita o número de pessoas que têm acesso à tecnologia. “Você tem grandes fundações fazendo projetos que ajudam 20, 30 pessoas por ano. É um absurdo”. Flávia complementa, afirmando que o baixo valor do F123 permite que governos e pessoas que ajudam ONGs possam ajudar bem mais gente. “Nós não precisamos de mais tecnologia, precisamos de tecnologia mais apropriada, mais barata”, disse Fernando.

O segundo foi ofertar cursos de capacitação e levar o F123 para projetos de inclusão digital para deficientes visuais. “Vendemos pen drives para vários centros de acessibilidade. A idéia é atingir um público que não pode pagar caro para ter um leitor de tela no computador”, diz Fernando. Um dos alunos formados no curso, Cléverton Barros, afirma que o alto custo dos softwares para leitura de tela sempre era um fator impeditivo para as empresas o contratarem, apesar de seu ótimo currículo e experiência profissional. Para ele, o F123, além de ser bem mais barato, é muito mais fácil de ser usado por ser software livre e estar em constante atualização. Depois do curso, ele conta que foi convidado por várias empresas para dar capacitação aos seus funcionários no F123 e também para trabalhar nelas.

A iniciativa levou Fernando Botelho para quase todos os continentes. Na parede do escritório de sua casa, há um mapa com mais de 30 países marcados. “Vendemos muito para a Zambia. É nosso principal comprador até agora. Foram mais de 100 licenças vendidas”, conta.

 

Fernando e Flávia em evento de divulgação do software f123

Fernando e Flávia em evento de divulgação do software f123

Projeto

A F123 era um projeto antigo de Botelho. Em 2006, ao reparar como os preços dos computadores pessoais tinham baixado em 10 anos e o dos leitores de tela, subido, ele decidiu investir na invenção. Três anos depois, ao lado da mulher, lançou um protótipo que além do leitor de tela, trazia um ampliador – para quem tem baixa visão. “Fizemos tudo muito básico porque não tínhamos experiência em programação. Eu sou dentista e o Fernando é sociólogo”, afirma Flávia.

Com financiamento internacional – especialmente com o apoio de uma premiação do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) – o casal lançou a primeira versão do F123 em 2010. Até agora, já foram vendidos mais de 600 pen drives – que podem ser instalados em qualquer computador (em cerca de 40 minutos).

A empresa lançará, ainda este ano, em São Paulo, a segunda versão do produto que, além do sistema operacional e do navegador, contém uma atualização que permite cursos online para deficientes visuais. “No fim do ano teremos aulas de inglês e espanhol e esse é só começo”, promete Botelho. Planilhas de dados, navegador de internet, editor de texto, e-mails e programas de mensagem instantânea estão inclusos no novo F123.

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